quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Poema do ousado


Ele era um verdadeiro gentleman,
daqueles que abrem aporta do carro
e sempre pagam a conta do jantar.
Gostava de ficar em casa,
ir ao cinema,
almoçar em família
e sempre fazia questão de apresentar
aos amigos e parentes.
Ligava todas as noites antes de dormir,
mandava flores,
dava presentes de bom gosto,
conversavam sobre tudo e
não houve um dia que não
dissesse "eu te amo".

Ela escolheu além.
Gostava daquela boca que cuspia brasa
e da capacidade de transformar
duas mãos em no mínimo mais umas quatro.
Do jeito que suas pernas se entrelaçavam
do calor quente que seus corpos emitiam,
do gosto salgado do suor.
Nunca se ligavam, pouco se encontravam
muito se desejavam.
Eram dois bixos, dois amantes
e não queriam ser
mais nada além disso.
Não conversavam, pois
palavras pouco interessam.

Podia ter um verdadeiro gentleman
e levar uma vida decente,
mas prefere uma vida ousada
porque, de fato
gosta dos que não prestam.

Flor de Moraes

me deixa viver, me deixa viver
Caetano Veloso

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