quarta-feira, 29 de julho de 2009

Da solidao

Desilusao, desilusao, danço eu, dança voce na dança da solidao. Ah essa solidao inexplicavel e sem fim. Essa solidao cercada de pessoas e a falta de nao se sabe o que. Pode ser de qualquer coisa, pode ser de nada. A solidao que eu pedi que caisse dos ceus agora cai numa hora meio inapropriada, a hora que eu mais precisava de alguem. Mas ja que me resta apenas a solidao de sentar em frente a porta e esperar que alguem chegue, escrevo essas palavras sem acento pois nao consigo acha-los nesse computador moderno, escuto o futebol que nada me interessa passar na televisao e ja me conformo e estar sozinha, afinal ninguem vai vir pro jantar.

Laura Santos

terça-feira, 28 de julho de 2009

Segredos do mar

Musiquinha que eu tenho escutado muito esses dias.

Segredos do mar
Flavia Wenceslau



"Uma parte do meu coraçao nao me avisou que assim seria, conhecer os temporais pra ter alguma calmaria."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Lei dos Corpos Dóceis

O Jornal Nacional terminou agora e já vai começar a novela das oito que na verdade começa às oito e quarenta. Já se passou o jantar, a hora do banho, dos deveres de casa e ainda tem um resto de comida nas panelas em cima do fogão e a louça continua suja dentro da pia. Os cachorros já se deitaram, as toalhas estão penduradas, a casa tá limpa e silenciosa, exceto pelos cômodos contidos de pessoas que provocam algum ruído quase insignificante. Cada um no seu quarto, sua cama, televisão, computador e música. Houveram tentativas de conversas, mas as divergentes opiniões nos levaram ao lugar mais óbvio: lugar nenhum. Acometida de resfriado que não melhora nem piora, me irrito a medida que uma corisa incômoda escorre pelo meu nariz que ora não sente cheiro de nada, assim como minha boca não sente gosto, mas minha alma sim, ela saboreia o paladar amargo do mau humor. Os ouvidos insensíveis escutaram pela primeira vez o coração sensível que já não tocava há algum tempo, já era hora de desprender de lembranças sem sucesso que o passado me deixou. Cidade e cor tocam em meu auxílio para compor palavras que não fazem mais do que desabafar. É tudo tão rotineiro. Almoço, gasolina no carro, remédio para gripe, as notícias do jornal, a história da novela, as crises, as decisões, as músicas para dias depressivos, o número do sapato e até a cor dos olhos. Qualquer passo que seja menos iluminado me proporciona a sensação de um passo incerto, em falso, duvidoso. Sair do conforto de uma cadeira totalmente acostumada com as curvas do seu corpo, a toalha sempre estendida ao seu modo, as roupas penduradas por modelo, cor ou tamanho no guarda-roupa são parte de um presente concreto e totalmente previsível. É tudo tão previsível. A essa hora, creio eu, a maioria se importa apenas em vestir-se de um pijama confortável e deleitar-se numa cama macia e de lençois limpos, porque é mais interessante do que jogar cartas em família ou ler Nelson Rodrigues e suas putas bacanas. Tudo isso me entedia deploravelmente. O veredito diz que sou culpada pelos meus pecados, mas eu não quero ser sozinha essa noite. E por que tem sempre que fazer frio no inverno e calor no verão? Por que as flores são mais bonitas na primavera, mas a folhas sempre caem no outono? Por que amigos vem e vão? E por que sempre somos os mesmos? Por que não mudamos a cor dos olhos e o número do sapato? Por que comemos sempre no mesmo horário e pedimos a mesma cerveja no mesmo bar? E que diferença faz se as camisas não são penduradas por ordem de cor? Envolvo-me de perguntas que não farão a mínima diferença, embora me incomodem demasiadamente, mas prefiro continuar a escrever essas palavras do que levantar-me e pedir para que amanhã seja mais quente do que hoje, que eu tenha menos dúvidas e que a corisa pare de escorrer. Sendo assim, padeço dos pecados que eu cometo e carrego a cruz da incapacidade de transformar nada em qualquer coisa, ao contrário disso, vejo qualquer coisa passar-se por nada porque eu não soube vê-la de outra maneira. Até os meus olhos estão acostumados com a Lei dos Corpos Dóceis. E enquanto isso, enquanto meu corpo trafega pelos mesmos caminhos e eu tomo sempre os mesmos remédios para resfriado, minha alma de bicho selvagem e inconformado vomita a repugnância de ser apenas Eu, e nada além disso.


Porque nada eu fiz para que fosse diferente.


Laura Santos.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do amigo

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida, mas é delicioso que eu saiba e sinta que eu os adoro, embora não declare e os procure sempre...

Vinícius de Moraes

*Aos meus amigos, feliz dia do amigo.*

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para o sonho de Alice


Acorde, Alice. Desperta do sono que ora tu tens, não convém que durmas tanto assim. Vamos, acorde, que em teu sonho ninguém acode caso te metas com alguém. Minha menina sonhadora, vai depressa porque o tempo voa nas patas de um coelho e teu mundo não é nada além da tua própria imagem refletida num espelho. Acorde, Alice, não quero que sonhes assim, com uma rainha louca e rosas brancas cor de carmim. Junte todo esse baralho que espalhastes, pare de falar com as flores, não existem centopéias que fumam, sem falar naquele gato que você chama de Mestre. Nunca vi coisa mais absurda. Vamos, Alice, tu tens que acordar, não podes sonhar pra sempre. Acorde, Alice, por favor.


Laura Santos

domingo, 12 de julho de 2009

Domingo

Agora eu senti que está aberta a temporada de frio. Senti que o vento sopra mais gelado e o corpo está sempre arrepiado. Uma brisa gélida na nuca e nas maçãs do rosto me deixaram vermelha e sinto falta de pouca roupa, mas é tempo de vestir-me. Tão igualmente, visto-me também de sabedoria para passar por esses dias menos quentes e mais complicados. Fica mais difícil permanecer num lugar onde tudo parece um grande inferno e as pessoas são demônios que nos perseguem sem cessar. Ainda recordo-me de como o passado me fez tão mais feliz e como o presente me confunde e amarga. Tudo fruto de um processo de crescimento que mais me empurra pra baixo do que pra frente. E como a melancolia que me deixa em clima de reflexão e meditação, busco em algum lugar respostas para as perguntas que me assombram. A cruz pesa, os passos ficam vacilantes, a respiração ofegante e nada será como antes, mas talvez seja melhor. Carreguei o vídeo do Rei e escutei um milhão de vezes a música Detalhes, aquela tão bonita pra esse dia que meu humor acordou negro.
Laura Santos

"Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada...
Não adianta nem tentar me esquecer."

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Jantar romântico

Vestiu-se com seu vestido mais bonito,
colocou meia calça, sapato alto e uma langerie muito sexy,
maquiagem suave, os lábios carnudos e vermelhos
e perfume francês.
Olhou-se no espelho e sentiu-se bonita para a ocasião.
Vestiu-se para um jantar romântico a três:
ela e a solidão,
o amor chegaria talvez.
Flor de Moraes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Primeira anotação de julho

No dia que o muro caiu, também cairam os paradigmas fracos de uma sociedade frágil e desgastada. No dia que o muro caiu, as famílias se uniram, as pessoas se abraçaram, os amigos se reveram, a metade tornou-se inteira. No dia que o muro caiu, eu também derrubei meus medos e dei abertura para que o sol brilhasse onde outrora fazia sombra e era frio. E não menos esperado, tanto havia me acostumado com o inverno constante na minha alma gelada, que o sol não mais esquentou e nunca foi primavera no jardim onde os pássaros não cantam mais. Restou-me não mais do que as lembranças fragmentadas do muro que me dividia, as pessoas que iam e vinham, a poeria de dias intermináveis onde eu era o único personagem num palco iluminado. Tornei-me tão ausente do mundo e de pessoas que acostumei-me com a solidão como minha única companhia, a única que verdadeiramente nunca me deixou. E tão ocupada em juntar os cacos do muro que caiu, pouco eu vejo que alguém precisa de mim, da minha ajuda, presença ou simplesmente meus ouvidos. Tranco-me nesse mundo que eu criei para que não veja o mundo lá fora, o que pode ser bem pior do que o meu. E de fato eu não me importo. Agora resta-me um caminho pela frente que eu faço questão de percorrer. E as lembranças? Eu seleciono as que eu quero levar. E o que eu faço com os cacos? Vou catando aos poucos que é pra não me cortar em alguma recordação inútil.
Laura Santos