segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Contrastes

A semana amanheceu nublada. A segunda feira era chuvosa fazendo jus aos meus olhos que choram desde que você partiu. Minhas pupilas não brilham mais como os sóis de verão, mas uma nuvem de tempestade sentimental agora ocupa a minha cavidade ocular e parecem não mais do que dois buracos negros. Quantas semanas hão de amanhecer simplesmente porque devem amanhecer? O que purpurina agora são as gotas da chuva que respingam das folhas verdes do lado de fora da minha janela. O céu parece mais fosco do que nunca, a alma mais morta do que antes e um pouco menos do que depois. Vai-se o tempo embora, deixando apenas aquelas lembranças atemporais. O tempo que reparto em dois, a estação do ano e o estado do espírito. Dois tempos que não posso evitar, dois que não posso parar, dois que nunca saberei explicar: porque choro na alegria e porque chove no verão.

Laura Santos

[see you soon]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Na Natureza Selvagem

Ontem eu FINALMENTE terminei de ler o livro que inspirou o filme "Na Natureza Selvagem". E nas últimas páginas o autor cita um dos trechos grifados por Cris McCandless do livro de Edward Whymper. Esse trecho me marcou de forma pessoal e intimista pois trouxe para mim uma parte da minha vida: uma história que eu não pretendo esquecer e quero apenas lembrar do que foi bom, deixando de lado o que não foi tão bom assim. Eis o trecho:

"Ainda assim, a última mamória triste paira e, às vezes, deixa-se levar como neblina flutuante, interceptando a luz do sul e enregelando a lembrança de tempos mais felizes. Houve alegrias grandes demais para ser descritas com palavras e houve dores sobre as quais não ousei alongar-me; e com isso em mente, digo: escale se quiser, mas lembre que coragem e força são nada sem prudência e que uma negligência momentânea pode destruir a felicidade de uma vida inteira. Nao faça nada às pressas; olhe bem para cada passo; e, desde o começo, pense que poderá ser o fim."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Parte

Eu sou qualquer coisa que reflete em você. Sou seu riso mais sincero e seu choro mais tímido. Sou a estrada que corre embaixo dos seus pés e as nuvens que voam por cima da sua cabeça. Eu sou o álcool que você ingere e o suor que traspira. Sou as cartas de amor que você nunca mandou e sou a dor por nunca ter as mandado. Sou o que você chama de felicidade, de saudade de pudor. Sou o que você é, foi e será. Sou seus sonhos que velejam além-mar. Sou a esperança dos seus olhos e a razão dos seus sentimentos frios. Eu sou o que te preenche de tudo e de vazio. Eu sou as vontades que você tem secretamente e sou o motivo para você realizá-las. Sou tudo e nada. Sou suas mãos, seus braços, seus abraços, seu vigor e seu cansaço. Sou as outras mulheres que você beija, que você deseja, corteja, dispensa, rejeita. Sou seu coração gelado, sua alma desalmada, sou o calor dos seus olhos marítimos, sou sua dança, seu embalo, seu ritmo. Sou os marujos que te conduzem pela perdição da vida. Sou essa própria perdição, sou seu sim, sou o talvez e sou aquele velho e certeiro não. E sou vestígios das suas lembranças, parte das suas noites, parte da sua memória, parte da vida, da alegria e do prazer que você não há de negar que teve.

Laura Santos

domingo, 22 de novembro de 2009

Fim

Rendo-me à dor de cacos contaminados,
opacos, perigosos, a dor do amor que resultou em
nada e que se perdeu na estrada da saudade
amiga dos dias que não hão de passar
levemente, aos poucos, antes
do tempo certo e que eu hei de
ouvi-lo chegar, mas cá no peito
brota a alegria das horas passadas no
ócio da ilusão de ser apenas um quando
trocavamos bocejos e segredos
entre um beijo e um desejo
ligados na energia da vontade de ontem,
hoje e sempre enquanto há de durar esses
olhos que eu não quero esquecer.

Laura Santos

mais um dia comum

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Incertezas

São essas manhãs que me fazem feliz,
de sol quente e brisa litorânea,
sinto que escapei por um triz
de tristeza momentânea.

Vou seguindo a estrada cheia de saudade e pó
sem perceber quem passa na rua
porque quanto mais só
mais sinto que fui sua.

Agora parto pra outro caminho perdido
sem saber o que virá depois da encruzilhada,
pode ser outro amor distraído,
pode simplesmente não ser nada.

E hei de ser feliz assim,
sem lamentar o presente errante
sem lamentar o que não fiz por mim
e sem pensar que o futuro ainda é distante.

Laura Santos

[o mundo é um moinho]

domingo, 15 de novembro de 2009

Depois vem paz

Depois do primeiro encontro, depois dos olhos gelados e dos beijos em brasa. Depois da graça, depois das idas e vindas, do sim e do não, depois da ilusão e realização. Depois de desencontros, de desejos, de bocas, de lua, de céu, de cerveja, de cigarro, depois do vinho, depois do ano, depois da confissão, depois que me teve, depois que eu fui, depois de escutar, de abraçar, depois do "oi", depois da música, do embalo, da bebedeira, do "tchau", depois do dia quase tarde, do silêncio mudo, depois da bagunça, da farra, do chiclete, da boca tarada, do suor quente, depois do projetos, dos risos, dos filmes, do chão, do quarto, depois da esquina, depois do cheiro, dos livros, das frases, das fotos, das figuras, das imagens, depois de outros que vieram antes e depois, depois de voz, depois que eu quis, depois que você pediu, depois que eu me enganei, que você me disse que não, depois de tudo, de tanto, de mais, depois do sexo, depois do amor, depois da amizade, depois de tudo, de tanto, de mais, depois que tudo tanto faz, já se vai embora mais um ciclo e vou de encontro à paz.

Laura Santos

Fim de ano

Mão aberta e peito fechado
Pela porta que entrou, agora vai embora
Não olhe para a alma que chora
E nem deixe recado.

A vida seguirá a passos normais.

Laura Santos

Lembre

Lembrança é aquilo que acontece quando o feixe de luz de dois polos da emoção atingem a alma: a alegria demasiada e a tristeza amarga. Lembrança é aquilo que fica depois de um sonho, uma noite, um beijo, um cheiro. É o encontro do passado e do futuro quando você projeta a não-realidade nos dias vindouros. É o instante que passa tão rápido que você mal teve tempo de saborea-lo aos poucos, com gosto, com tato, calmamente. Lembrança é o cheiro da nostalgia que adentra as narinas e chega direto nas veias; é o sabor da melancolia que a boca se torce para digerir; é a sombra que passa pelos olhos numa velocidade que só o coração calcula. Lembrança é tudo que te traz a saudade que caleja, que fere a golpes de imagens o que passou e que não mais voltará. Lembrança é tudo aquilo que você tenta inutilmente esquecer, mas ela volta como um fantasma mal resolvido. Não tente esquecer. Simplesmente aceite e lembre-se com amor e doçura o que se foi. Guarde seus melhores momentos e conviva apenas com a ideia de que passou, não com o dissabor de que não mais voltará. Orgulhe-se de um dia ter sido feliz, ter tido alguém, ter viajado pra longe, ter provado uma comida exótica. E apenas lembre, mas lembre o suficiente para sentir o gosto do passado. Não lembre com apego, porque o apego nos leva instantaneamente ao sofrimento, e ninguém precisa sofrer pelo passado.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Normalidade

Nunca a realidade foi tão normal. O vento é apenas o vento das tarde quentes que precedem o verão, uns coqueiros no jardim, o céu com algumas poucas nuvens, o silêncio urbando, a paz que só acontece nesses dias normais. Uma dor de leve invade a alma e quase empurra uma lágrima pra fora, mas isso tambpem é normal, a vontade e a não realização, apenas vestígios do que poderia ter sido e não foi. E a vida vai. Meio no sobe e desce, nas idas e voltas que esses caminhos ainda nos conduzem, nas entrelinhas escondidas nas curvas de uma estrada semi reta. Alguns tentam juntar os cacos do coração partido enquanto eu simplesmente largo cada pedaço de caco por onde eu vou. Não quero juntar fragmentos de decepção e melancolia. O amargo da boca esqueço quando lembro que também já provei do doce. E simplesmente vou, apenas sigo em frente sem saber o que posso encontrar depois de uma curva, uma chuva, depois que eu voltar à minha realidade sem você.

Laura Santos

[um dia comum]

Receita

Que aquilo que o coração fala, tampe-se os ouvidos da razão,
para que quando o coração falar, os ouvidos não deturpem
nem se firam com as palavras escandalosas do amor.

Que ele fale baixinho, fale de leve, fale manso,
que mal possa se ouvir a voz, os tons, o murmúrio
melódico e enjoativo escaldado nas águas do amor.

Que ele seja firme como uma rocha e agitado como um cais,
mas que saiba reconhecer os bem feitos da razão
para que não se envelhece sob o teto do amor.

Que seja o último a chegar e o primeiro a sair,
que se guarde no próprio silêncio e que
fuja incansavelmente do tal do amor.

E o amor? O amor fica a cargo das lembranças,
da pele e da nostalgia promovida simplesmente
por amar, mas nunca ter amado de fato.

Laura Santos

domingo, 8 de novembro de 2009

Poema do dia seguinte

Me perdi no limite da razão e do sentimento
e fico parada enquanto pareço que corro
chego a lugar nenhum quando tento
e só me esqueço quando morro.

A cabeça roda e o coração agita
o silêncio dos olhos são facas pontiagudas
enquanto isso a dor parece que grita
procuro alguma coisa que acuda.

Mas só me resta essa linha
que eu acompanho com passos incertos
vejo que caminho sozinha
e te encontro nos caminhos retos.

E vai a vida desencontrada
pois mais nada interessa agora
além dessa hora errada
que não é nada além de mais uma hora.

Laura Santos

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Eugênio Mohallem

O objetivo desse blog é totalmente artístico e cultural (ninguém percebeu antes, né?), mas vou falar profissionalmente nesse post. Vou ser publicitária (um dia, que sabe?), e como não poderia ser outro ramo, vou ser o que? REDATORA. Isso, vou escrever. Aí, viajando infinitamente em blogs hoje, achei um site (esse aqui) que publicou frases célebres do genial redator publicitário Mohallem. Vou postar também, né? Aproveito para meditar[mos] sobre as coisas que ele falou...

- Elegância não se resume a dar nós em gravatas: marinheiros dão nós como ninguém e se vestem como o Pato Donald.

- Minha cidade é como um jogo de xadrez: para cada dama, oito peões.

- Filhos crescem, casam e têm filhos. Não necessariamente nesta ordem.

- Não dá para acreditar num país que comprou o Acre.

- Diploma universitário não serve para nada e ainda faz você perder a carteirinha de estudante.

- Quadrinhos de jornal são muito complicados: você está lendo o Recruta Zero e sem mais nem menos surge um tal de Garfield no meio da história.

- A humanidade ainda não encontrou resposta para alguns mistérios. Por exemplo, para onde vão todos aqueles japoneses que passam em primeiro no vestibular?

- É preciso reconhecer que este ano nossos parlamentares apresentaram vários projetos de emenda: emenda o carnaval, emenda Tiradentes e emenda Corpus Christi.

- Se o horário oficial é o de Brasília, porque a gente tem que trabalhar na sexta e eles não?

- Tirando o Elvis, quem é vivo sempre aparece.

- Todo pesquisador é meio doido. Você acha que deve ser normal o cara que contou os pés da centopéia?

- Entre Livro e internet, prefiro livro. Pelo menos ele só cai quando durmo.

- Mais prudente é duvidar de tudo. Alias, não acredite nisto.

O cara é BOM de serviço.

PS: Não coloquei foto porque não se acha foto decente dele. =/

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ele

Deito sob o céu de perguntas
insistentes e impertinentes que me
encontram com os olhos fitando o
gigante da minha confusão
opaca e sagáz.

Bebo no leito do rio
onde transcorre o peito
rasgado de dor e palavras que
gritam com as
esperanças que me restam
solitariamente.

Ainda corro atrás do tempo que
levou todas a palavras que a alma
balbuciava nos
aparadores das ébrias
noites que carregavam
encantos de desejo, mas que agora
zigue-zagueiam por outras bocas.

Laura Santos

[Linger]