segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Parte

Eu sou qualquer coisa que reflete em você. Sou seu riso mais sincero e seu choro mais tímido. Sou a estrada que corre embaixo dos seus pés e as nuvens que voam por cima da sua cabeça. Eu sou o álcool que você ingere e o suor que traspira. Sou as cartas de amor que você nunca mandou e sou a dor por nunca ter as mandado. Sou o que você chama de felicidade, de saudade de pudor. Sou o que você é, foi e será. Sou seus sonhos que velejam além-mar. Sou a esperança dos seus olhos e a razão dos seus sentimentos frios. Eu sou o que te preenche de tudo e de vazio. Eu sou as vontades que você tem secretamente e sou o motivo para você realizá-las. Sou tudo e nada. Sou suas mãos, seus braços, seus abraços, seu vigor e seu cansaço. Sou as outras mulheres que você beija, que você deseja, corteja, dispensa, rejeita. Sou seu coração gelado, sua alma desalmada, sou o calor dos seus olhos marítimos, sou sua dança, seu embalo, seu ritmo. Sou os marujos que te conduzem pela perdição da vida. Sou essa própria perdição, sou seu sim, sou o talvez e sou aquele velho e certeiro não. E sou vestígios das suas lembranças, parte das suas noites, parte da sua memória, parte da vida, da alegria e do prazer que você não há de negar que teve.

Laura Santos

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