segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um domingo

O domingo foi deliciosamente estranho. A casa é típica de vó. Aquela movimentação da família que entra e sai toda hora e que me deixa sempre um tanto desconfortável por ainda não conhecer o rosto de cada, tampouco saber o nome de cor. Aquele ambiente logo me pareceu familiar. O cheiro de café ao entardecer, a despedida de parentes que vão embora, os primos reunidos numa sala muito confortável animados pela partida de futebol no videogame. VOcê estava lindo. O jeans simples, o tênis pouco desgastado e o moletom tão quente e tão macio como nunca. Seu cheiro sempre tão suave, limpo, gostoso. Eu, sem pudor algum, esparramada no conforto do sofá e no aconchego quente do seu colo, poderia passar o resto das longas horas seguintes ali, sem a menor vontade de ir embora. Sua mão, entrelaçada à minha, me deixava mais perto da felicidade do que da melancolia que as tarde de domingo costumam me causar. Pela fresta da janela eu via a tarde se por e desejava que ela não chegasse ao fim quando, num último beijo noturno, nos despediriamos antes de partir. Não poderia exigir mais daquele domingo. De perto, eu admirava o azul intenso dos seus olhos e tentava traduzir em palavras a sensação de estar tão próxima a eles. Ouvir a sua voz baixa no silêncio daquela sala era como se uma nota musical afinadissima avançasse ouvido adentro rompendo a ausência de som. Me desliguei do mundo por cada segundo que os últimos raios do sol da tarde me proporcionavam, e, como quem coleciona selos, eu colecionava cada instante de felicidade que aquele domingo, deliciosamente atípico, me deu de presente.

Laura Santos ao som de piano e cordas. O domingo? Quero repeti-lo quantas vezes mais precisar.

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