quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mil anos

Nem precisei me olhar no espelho pra concluir:
Estou ficando velha.
Não porque já vejo sinais de algumas inevitáveis rugas,
nem porque meus cabelos estão branqueando,
mas porque me sinto velha.
Meus ossos e músculos doem
e sempre falta café na garrafa,
é preciso café todas as horas
do dia, e da noite também.
Sim, as pessoas me encomodam.
Eu gosto assim, do meu quarto
frio, a música pra velho
que corta o silêncio solitário,
gosto das minhas manias e
de limpar minhas coisas quando
me sinto disposta.
Gosto de ler livros grandes
e de sentar-me as vezes na jardineira
embaixo do pé de jabuticaba doce.
E sabe os gatos que todo idoso tem?
Eu já carrego um desde jovem.
Eu quero que seja assim, as almofadas
da minha cama e as toalhas do
meu banheiro, piso anti derrapante
porque eu sempre escorrego muito.
Sabão anti alérgico porque tenho
mãos sensíveis e creme com filtro
solar porque minha pele é muito delicada.
Deixe sempre uma luz acesa, caso
eu tenha que ir ao banheiro,
e não se esqueça do meu copo
com água acomodado do lado
da cama, em cima do criado mudo.

Eu sou uma velhinha de pouca idade.

Flor de Moraes

[Viõrar Vel Til Loftárasa - Sigur Rós]

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