domingo, 12 de abril de 2009

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12 de Abril de 2009, domingo de Páscoa, o vigésimo que passava na terra. Não esperava nada da vida, só uns poucos sonhos, alguns frustradamente realizados, outros sem possibilidades de acontecerem, alguns já haviam sido descartados há muito. Nada, nada da vida, nem amores, nem realizações, nem paixões, nem sequer a vida em si. Nem pegadas na areia, nem o último cigarro aceso e nem aquele livro pobre. Só as refeições e necessidades diárias, as obrigações que não escolheu, vinte e quatro horas que se repetiam sem parar. Nada, nem amigos, nem companhia, nenhum ombro pra chorar, ninguém pra fazer rir, nenhum cachorro pra dar de comer. Só as folhas que caiam no outono e as flores que desabrochavam na primavera, alguns mares salgados e umas geleiras que iam descongelando enchendo oceano adentro. Só alguns que nascem, outros que morrem, todos anônimos para si mesmos. Nada de nada pra nada. Nem lugar nenhum, nem casa, nem para onde ir. Só umas lágrimas que escorriam no rosto que se via num espelho, uma pia que serve de apoio para o cansaço, um banheiro que testemunha o desespero de alguém solitário. Nada, de mãos vazias veio, de mãos vazias vai embora, deixando pra trás nada que fosse gratificante ou de valor, nem ninguém que amou de verdade. Deixando sequer algo escrito para ser lembrada. Não queria ser lembrada. Nunca foi.

Nada.
Só os pontos finais,
o peso da cruz
e nada mais.

Laura Santos

[Angel - Sarah McLachlan]

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