segunda-feira, 20 de abril de 2009

Das tormentas


Pouca hora da noite e uma dor descontrolada que me acometeu o dia todo. Hoje alguém mais entendido e sábio do que eu me perguntou se o que eu quero é o que eu realmente quero. Não sei mais o que eu quero. Podia mudar-me, mas não posso deixar meus problemas, minhas dores, meus amores por aqui, eu os levarei pra qualquer lugar que for. Um desespero que invade e se instala nas vielas escuras da alma preenchendo de vazio e apagando qualquer vestígio de esperança. Sombra que o sol não atinge nem luz que corta o escuro que faz agora. E faz frio também, mais frio do que de costume. Pontos de interrogação que escapam por cada suspiro fraco, medíocre. Lembranças amargas e doces de dias nobres e noites indecentes. Agora a decencia me empurra ladeira abaixo e dúvidas tampam-me num buraco que não vejo o fundo. A contradição de tudo que eu fui e agora não sou mais. Tão forte, tão firme, tão concentrada e pé no chão, agora tão pequena, tão perdida, tão desiludida. Vontade de encaixotar as lembraças que vagam no meu pensamento acelerado. Elas são tão constantes, tão confusas, não me deixam em paz. É a hora que a corda arrebenta, o barco naufraga, a inconstancia te coloca num palco e te faz de palhaço, palhaço da vida. E eu nem consigo brincar de ser feliz. Medo do que o dia de amanhã pode me trazer e esperança de que me traga coisas melhores do que o dia de hoje. Confusão sentimental seguida de uma personalidade forte, orgulhosa. A lágrima que escorre em silêncio e a saudade que não ultrapassa as quatro paredes do quarto. Ali nasce, ali morre pela primeira e última vez, ninguém precisa saber. A vontade de esconder-se em qualquer lugar que não tivesse a sua imagem, nem o som daquela música que toca descontroladamente. Quero agora calar-me e deixar que o silêncio talvez explique o que as palavras tentam, em vão, explicar. Tantas tormentas e tempestades violentas já se passaram, por que agora também não haveria de passar?

Laura Santos

[The Fletcher Memorial Home - Pink Floyd]

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