sexta-feira, 6 de março de 2009

Não sei

Essa tarde eu acordei mais branda, mais suave, porém ainda permanece aquela velha nostalgia de sempre. A chuva que caiu (e parte me molhou) refrescou o chão quente levando embora a poeria de dias insuportáveis. No céu pairam nuvens carregadas de chuva, de frescor, de esperança quem sabe. Não faz sol, nem calor, nem frio. O violoncelo de Dvorak entra nos meus ouvidos e produz um certo tipo de loucura, surdez. Não, não quero ouvir o céu triste que chora nem meu vizinho reclamar que a água molhou suas roupas no varal. Vê? Alguém lá de fora exclamou bravamente: "Nossa, que tempo feio!" O mundo não me interessa. Essa moleza corporal me faz querer deitar em braços confortáveis e quentes e me sentir protegida de toda a promessa da chuva que ainda vai cair. Ao mesmo tempo, sinto que não há lugar melhor para recolher-me do que dentro de mim, mas tenho medo, medo dos caminhos tortuosos que eu nunca percorri, dos diabos que nunca vi, dessa gente esvairada que anda por aqui, cá dentro do peito. Hoje minha cabeça gira muito mais rápido do que naquelas noites ébrias, embriagadas. O tic tac do relógio me apressa. Parece que vejo a vida passar pela janela do meu quarto. Essas auroras são tão inconstantes, quem pode prevê-las? E não venha me falar da previsão do tempo. O findar do dia não é para você como é para mim. Sinto-me distante das tardes quentes que em algum dia da infância eu vivi. Essa distância me leva pra perto de você. Quantas vezes sentimos o sabor infantil das tardes coloridas de Brasília? Por agora, me encontro enclausurada não só dentro desse quarto, mas presa dentro dessas lembranças me cortam como faca de fio amolado. Sem perceber, sangro meu próprio coração me levando pra perto desses resquistos de memória dos dias que a realidade era mais colorida. Quanto tempo eu perdi? Quanto tempo estou perdendo? Melhor você ir embora e levar contigo todo o nosso passado, pois você já não faz muita parte do meu presente, não como eu queria que fizesse. Doces, doces e amargas lembranças daquela nossa infância particular. Eu queria que estivesse uma tarde bonita. Quem sabe se eu enxergasse além das nuvens, eu conseguiria ver um céu mais distante, mais firme, mais tenro. Agora encontro-me nessa realidade fria, quase morta. Deixe que outro coração aqueça a frieza da minha solidão. Eu conheço olhos que, se eu chegar mais perto, posso me ver dentro deles. Algum tipo de desejo ou compatibilidade de interesses nos unem. Aproximem-se, olhos forasteiros! Eu não sei do seu passado, mas posso querer fazer parte do seu futuro de alguma maneira sutil. São almas calejadas e sofridas e monstros na cabeça que gritam incansavelmente. A gente não precisa matar os monstros se aprendermos a cala-los. E as lembranças ainda continuam ardendo aceleradamente em algum lugar dentro de mim. É a saudade que entra sem pedir. O ar agora assume uma cor meio laranja, quase florescente. Acho que minhas pupilas estão dilatando deixando que alguma luz colora minhas retínas foscas, ácidas. Não sei. Não há o que esperar além do futuro que eu pensei chegar, mas acabou de ir embora. De vez em quando eu tento sonhar com alguma coisa mais real. E enquanto pobremente e improvisadamente eu tento traduzir essa tarde melancolica e nostalgica que segue mundo afora e noite adentro, a vida me chama para sair dessa casca de castanha e seguir pelo caminho que recebeu chuva porque certamente lá brotarão flores.

Laura Santos

[entre nós]

2 comentários:

Unknown disse...

as vezes qnd olhamos o céu cinzento esquecemos q existem estrelas. mas elas estão lá. agora quanto à aquarela ou carne é fraca. nao posso te ajudar. ahahuah

Laura disse...

hausheiuasheiuasheiausehaus.

Sempre uma ajuda inconsciente.

=*