Eu andei a passos largos e silenciosos,
tentando atravessar o saguão onde
dormia um bicho de sete cabeças.
Por muito esse monstro permaneceu
sólido, mudo, quieto dentro de mim.
Uma fera que eu tive que domar
a pedradas de palavras ríspidas
e socos de verdades inteiras.
Eu apaguei a luz e o mandei
dormir.
E quando me aproximava
da saída daquela sala fria
e que me causava arrepios
n'alma, eis que o monstro,
como peixe que pula
fora d'agua,
acordou feroz, veloz,
faminto.
Já disse, bicho de sete cabeças,
animal, tosco e voráz!
Se não te acalmas,
luz do dia
nunca mais verás!
Corto-lhe as cabeças e tua alma
entrego pra Satanás,
livro-me dessa tua pele
áspera e teu cheiro de gás
terei descanso, sossego e paz
esquecendo-me, finalmente
dos meus
suspiros e ais.
Flor de Moraes.
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Um comentário:
Muito bom Laurinha... Gostei muito da ilustração do bicho-de-sete-cabeças. Essa é uma representação que em especial acho fantástico, porque além da simbologia do conflito interior multifacetado, tem-se a referência ao mito grego da Hidra de Lerna, o monstro de sete cabeças que representava os temores de todo um povo, assim como todo um conjunto de valores de dominação e controle através do medo.
Obs: Quanto ao Aura, realmente parece com Laura, mas se há de convir que você tem um nome muito lindo =)
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