A noite tinha gosto de vinho.
Meus sentidos ficaram aguçados
pelo álcool que percorria minhas veias
até a cabeça girar tonta.
Não poderia me esquecer da meia luz
que vinha da lua cheia do lado
de fora da janela entre-aberta.
Era uma noite quente e febril
de outubro.
Não sei se fazia de trilha
a música que tocava
ou as confissões que
trocavamos entre palavras,
gestos e gemidos cerrados.
Tinha a estranha sensação
de querer ficar para sempre,
não apenas enquanto as
horas se arrastavam madrugada
adentro naquele quarto que já
vira tantas chegarem e partirem.
A pele produzia suor salgado.
A boca, beijos molhados.
Os olhos, palavras que não
foram ditas.
O corpo, gestos que não
poderia descrever.
Deitei-me úmida, de cabelos molhados
e embaraçada por consequencias
da bebida e do barato.
No chão, vi seu corpo
cansado estendido
adormecido belamente
cercado por nossas roupas
e segredos espalhados
com tanta desorganização
que denunciavam a pressa
do nosso desejo humano.
Logo eu também caíra no sono
e dormira sentido o céu no chão
e o gosto do pecado na boca.
E depois de tempos passados
ainda não sei se fiz dessas lembranças
sonho do sono que eu dormia
ou apenas desejo de que elas
retornassem mesmo depois
que um último beijo, um adeus
meio frio, fora a despedida
de corpos que nunca mais
se reencontrariam para uma
quinta vez.
Laura Santos
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