segunda-feira, 6 de julho de 2009

Primeira anotação de julho

No dia que o muro caiu, também cairam os paradigmas fracos de uma sociedade frágil e desgastada. No dia que o muro caiu, as famílias se uniram, as pessoas se abraçaram, os amigos se reveram, a metade tornou-se inteira. No dia que o muro caiu, eu também derrubei meus medos e dei abertura para que o sol brilhasse onde outrora fazia sombra e era frio. E não menos esperado, tanto havia me acostumado com o inverno constante na minha alma gelada, que o sol não mais esquentou e nunca foi primavera no jardim onde os pássaros não cantam mais. Restou-me não mais do que as lembranças fragmentadas do muro que me dividia, as pessoas que iam e vinham, a poeria de dias intermináveis onde eu era o único personagem num palco iluminado. Tornei-me tão ausente do mundo e de pessoas que acostumei-me com a solidão como minha única companhia, a única que verdadeiramente nunca me deixou. E tão ocupada em juntar os cacos do muro que caiu, pouco eu vejo que alguém precisa de mim, da minha ajuda, presença ou simplesmente meus ouvidos. Tranco-me nesse mundo que eu criei para que não veja o mundo lá fora, o que pode ser bem pior do que o meu. E de fato eu não me importo. Agora resta-me um caminho pela frente que eu faço questão de percorrer. E as lembranças? Eu seleciono as que eu quero levar. E o que eu faço com os cacos? Vou catando aos poucos que é pra não me cortar em alguma recordação inútil.
Laura Santos

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