Não temos nada
não temos ninguém.
Não temos o agora, nem o antes
muito menos o além.
Sol vira lua,
terra vira rua,
coberta vira nua.
Nada, somos compostos
e temos nada.
E eu me acostumei com o nada.
Com o passado remoído,
o presente esquecido,
o futuro mal vivido.
E hei de me acostumar
se não me tiver,
porque também me perdi
numa esquina crua
qualquer.
De nada, somos e temos nada.
Da cicatriz que não passou de um corte,
do azar que nunca foi sorte
da vida incerta e a certeza só da morte.
Laura Santos
[se vivi ou se sonhei]
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