sexta-feira, 30 de julho de 2010

Soneto de quem parte

Se perguntarem por mim, diga que sai
que fui embora,
diz que fui por aí,
que volto a qualquer hora.

Quando encontrar o que eu perdi
e descobrir o que me faz feliz,
quando viver tudo que ainda não vivi
e ter tudo que eu sempre quis.

Diz que eu não estou para um qualquer,
e que eu decidi pensar um pouco
sobre o bem e o mal me quer
seja sóbrio ou louco.

Apenas diga que parti,
sem levar malas ou alguém
diga que, sem saudade, fui por aí
acenando tchau pra ninguém.

Laura Santos desejando partir.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Verso para um conformado



Ele foi embora.
Foi em boa hora.

Laura Santos

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Alma do amor

Já se vai o tempo em que me contento em sofrer pelo abandono teu,
pois tu fostes um querubim jogado nos canteiros da minha alma em pleno inverno:
esquentaste-a com olhos flamejantes, com palavras incandescentes
e ateias-te fogo quando o amor já havia consumido até a vontade de viver.

Agora murmuro baixinho para que o coração escute: quem não quer sou eu,
desalmada, desiludida, lançada ao desgosto do inferno
onde qualquer alma pecaminosa é mais quente
que o amor que eu, um dia, eu quis ver-te fazer florescer.

Laura Santos, numa segunda, feira ao som de Sigur Rós.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Biografia

Laura Santos, 21 anos, redatora publicitária. Mora sozinha desde os 17 anos, quando, em intercâmbio, passou onze meses nos Estados Unidos, se virando. Hoje mora num apartamento, em Uberlândia, onde estuda, trabalha numa boa agência e tenta ser feliz. Possui os melhores amigos, tipo aqueles que ligam de madrugada, que choram no ombro e limpam o vômito. Tem a família que pediu aos céus, cheia de defeitos, cheia de qualidades, inseparável. Gosta de poesia, de livros, de filmes e é, incondicionalmente, apaixonada por música de qualquer espécie, desde que boa, claro. É até bonita. Tem traços e jeito de menina, coração de mãe, espírito de mulher. É praticamente independente. Gosta de sair, de conversar, de beber, dançar e se divertir. Às vezes comedida, às vezes desmedidamente. É madura. Sabe das suas responsabilidades, dos seus compromissos e das promessas. Sonhadora nata. Vive mais a realidade dos sonhos do que a do mundo em si. Não tem grandes pretensões na vida. Apenas formar, mudar para a praia e ser feliz. Laura acumula, ao longo dos seus quase 22 anos, muitas decepções, mas quem não? Sofre pelos seus defeitos, por não cumprir suas obrigações, por ser tão diferente, tão ela mesma. Sofre pelo que não viveu, pelo tempo que não passa e, principalmente, pelas desilusões que o amor lhe proporcionou. Teme amar. Sempre temeu. O amor é lindo, ela sabe, mas dá medo e ela sabe também, e sabe bem porquê. É jovem e tem longos caminhos pela frente, pra percorrer, pra caminhar, pra voltar, pra mudar. Ela cai, se machuca, chora, levanta e segue adiante com passos vacilantes mas decididos. Quer esquecer. Quer deixar ir embora quem tanto a faz sofrer hoje, pela ausência, pelo não, por simplesmente ter a deixado tão cedo. Mas ela vai enxugar as lágrimas, vai despertar desse pesadelo e vai recomeçar, por saber que, a vida, é um grande recomeço. Ela, acima de tudo, se ama, apesar dos pesares. Laura vai chegar mas longe, vai ser feliz, vai esquecer, vai rir desse sofrimento quando ele passar.
Laura é prepotente e egoísta.
Laura era demais pra ele.
Laura serve muito mais para ser ela.
Laura Santos não sendo e sendo a Laura.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Rehab

Já ultrapasso os dez dias de tratamento. Não tenho nada físico. Nem glicose ou colesterol alto, nem plaquetas baixas, nem um vestígio sequer de anemia. Estou um pouco abaixo do peso, mas nada que uma dieta hipercalorica e algum exercício físico não me ajudem a alcançar a boa forma. Parei de vomitar, parei de ter febre, parei de emagracer e até já durmo bem, bem até demais. Meu cabelo não cai, consigo controlar a ansiedade e o mal estar noturno que as longas horas noturnas me causavam. Até as dores de cabeça diminuiram. Tenho mudado. Tomo remédios para dormir e parei de beber. Posso dizer, até, que agora levo uma vida mais saudável. Creio que, em breve, posso voltar à velha rotina de sempre. Aquele que me faz feliz e que acaba comigo ao mesmo tempo. Agora tenho outro objetivo: quero esquecer os últimos fatos. Quero deixa-los ir embora e não mais me lamentar o que foi, o que não foi e o que nunca vai ser. Eu tinha planos e eles não se realizaram, mas nem por isso deixei de sonhar. Quero esquecer sua presença, seu cheiro e sua voz. Quero esquecer, acima de tudo, seus olhos. Tive os momentos mais felizes ao seu lado, mas agora, sem você aqui, sua ausência me causa o maior incômodo e me provoca lágrimas que eu ainda derramo, silenciosamente, todos os dias, antes de dormir. E antes de adormecer, fecho meus olhos e peço a Deus que me dê um pesadelo, mas não me deixe sonhar com você, porque nenhum pesadelo é tão ruim quanto ter um sonho com você e voltar à minha realidade sem você aqui. Saber que está tão perto e tão distante não por força das circunstâncias, mas por opção. O que me resta é aceitar com a sabedoria de um vivido e com a esperança e força de uma criança que, ao cair, chora, levanta e ri. É minha hora de rir. Voltar ao mundo duro de sempre e rir como se jamais tivesse caido. Rir sem medida. Rir com vontade e com sinceridade. Apenas rir. Da vida, das cicatrizes, dos tombos, das conquistas, das lágrimas que eu chorei por você.

Laura Santos

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Another Lonely Day

Se tivesse alguma coisa que queria ter escrito agora, seria essa música.



It wouldn't have worked out any way
So now it's just another lonely day
Further along we just may
But for now it's just another lonely day

quinta-feira, 1 de julho de 2010

monólogo de um apaixonado abandonado

eu disse que foi tudo muito rápido. não tivemos muito tempo pra nos conhecer. talvez eu que tenha tido tempo de sobra pra não me apegar, não para me apegar. é como estar num sonho bom, desses que a gente quer sonhar todo dia, mas nunca quer acordar. acordar é como despencar de uma nuvem por onde se passeou. talvez tenha sido a pouca idade, a distância, o desconhecimento dos dois, a falta de empenho, talvez tenha sido porque tinha que assim o ser. foi bom, eu sei que foi. tão pouco tempo junto, mas me parece uma eternidade quando se trata das lembranças e das fotos que eu ainda guardo. ele veio, eu gostei, quis ficar, eu deixei, foi embora e eu nem sei por que. foi intenso no limite das possibilidades. foi passageiro como uma chuva de verão. foi bom como o primeiro amor. eu não sei se ele vai querer voltar. se vai pedir pra voltar. se vai sentir falta. se vai me querer outra vez como se nada tivesse acontecido. e eu também não sei se vou querer voltar. acredito nos passos que a gente dá pra frente, não pra tras. dizem que quem vive de passado é museu e eu ainda não tenho cheiro de naftalina. se eu desejo mal pra ele? claro que não. quero que ele seja feliz, e como eu disse a ele, é mais uma decepção que eu tive e que só o tempo há de curar, assim como todas as outras.
começo rápido, meio rápido. por que o fim ia ser diferente?

Laura Santos entendendo completamente os mistérios que os minutos guardam. nem sempre um dia após o outro é bom.