terça-feira, 31 de março de 2009

Planos

Vou guardar meu salário
pra comprar uma casinha pra eu e você morar.
Vamos criar galinhas e ter filhos,
jardim e pomar.
Tirar leite das vacas, ver o sol
se por e raiar.
Vamos ser felizes na vida
até a morte nos separar.

Sim, eu estou brincando.

Prefiro você na minha casa de vez em quando,
tomando algumas taças de vinho
e pensando em quantas
cartas podemos sortear.
A gente pode ficar acordado
ou dormir depois de se amar,
fumamos aquele cigarro gostoso
e depois te mando embora
sem culpa e sem pesar,
sabendo que mais cedo
ou mais tarde ou eu te visito
ou você volta a me visitar.

O preço da liberdade que nenhum salário pode pagar.

Laura Santos

segunda-feira, 30 de março de 2009

Not a single word tonight

I keep trying to find words to describe this mix of feelings, but I can't, I won't find. There is no way to explain what I feel and I've done, I haven't done anything. Do you remember when we use to be parts of the same world? I won't forget, because you were somebody else to me for the first time I met you. Can you explain what happen to us? No! you can't. I can't tell you what you mean to me, because you mean way more that I thought. But you are scaping from my hands and I know I could not hold you. Stay here, stay a little bit more, let me feel your breath. Stay, please, let me look in your eyes, don't tell me you should go, it is late, you can be with me now. Don't let me here, alone, by myself, I can't walk without you. Do you remember this song? We used to listen together "why don't we go somewhere only we know?" You are going, but you are going without me, take me with you! Lets get drunk tonight, we always get drunk together! Lets sing, lets play, lets make love, lets get the hell out of here.
But now it's a little bit late, I've made my choices and you've made yours. I should move on as you do. Just in case you want to come back, tell me. I'll be waiting for you, right here.
It hurts, but I won't repeat that mistake again.

Not now.

Not anymore.

[This is the last time - Keane]

Realidade

A realidade do MSN pelo crítico Arnaldo Jabor:

Sempre odiei o que a maioria das pessoas fazem com os seus MSN's.

Não estou falando desta vez dos emoticons insuportáveis que transformaram a leitura em um jogo de decodificação, mas as declarações de amor, saudades, empolgação traduzidas através do nick.

O espaço 'nome' foi criado pela Microsoft para que você digite O NOME que lhe foi dado no batismo. Assim seus amigos aparecem de forma ordenada e você não tem que ficar clicando em cima dos mesmos pra descobrir que 'Vendo Abadá do Chiclete e Ivete' é na verdade Tiago Carvalho, ou 'Ainda te amo Pedro Henrique' é o MSN de Marcela Cordeiro. Mas a melhor parte da brincadeira é que normalmente o nick diz muito sobre o estado de espírito e perfil da pessoa. Portanto, toda vez que você encontrar um nick desses por aí, pare para analisar que você já saberá tudo sobre a pessoa...

'A-M-I-G-A-S o fim de semana foi perfeito!!!' acabou de entrar. Essa com certeza, assim como as amigas piriguetes (perigosas), terminou o namoro e está encalhadona. Uma semana antes estava com o nick 'O fim de semana promete'. Quer mostrar pro ex e pros peguetes (perigosos) que tem vida própria, mas a única coisa que fez no fim de semana foi encher o rabo de Balalaika, Baikal e Velho Barreiro e beijar umas bocas repetidas.
O pior é que você conhece o casal e está no meio desse 'tiroteio', já que o ex dela é também conhecido seu, entra com o nick 'Hoje tem mais balada!', tentando impressionar seus amigos e amigas e as novas presas de sua mira, de que sua vida está mais do que movimentada, além de tentar fazer raiva na ex.
'Polly em NY' acabou de entrar'. Essa com certeza quer que todos saibam que ela está em uma viagem bacana. Tanto que em breve colocará uma foto da 5ª Avenida no Orkut com a legenda 'Eu em Nova York'. Por que ninguém bota no Orkut foto de uma viagem feita a Praia-Grande - SP ?

'Quando Deus te desenhou ele tava namorando' acabou de entrar. Essa pessoa provavelmente não tem nenhuma criatividade, gosto musical e interesse por cultura. Só ouve o que está na moda e mais tocada nas paradas de sucesso. Normalmente coloca trechos como 'Diga que valeuuu' ou 'O Asa Arreia' na época do carnaval.
"Por que a vida faz isso comigo?' acabou de entrar. Quando essa pessoa entrar bloqueie imediatamente. Está depressiva porque tomou um pé na bunda e irá te chamar pra ficar falando sobre o ex.
' Maria Paula ocupada prá c** ' acabou de entrar. Se está ocupada prá c**, por que entrou cara-pálida? Sempre que vir uma pessoa dessas entrar, puxe papo só pra resenhar; ela não vai resistir à janelinha azul piscando na telinha e vai mandar o trabalho pro espaço. Com certeza.
'Paulão, quero você acima de tudo' acabou de entrar. Se ama compre um apartamento e vá morar com ele. Uma dica: Mulher adora disputar com as amigas. Quanto mais você mostrar que o tal do Paulão é tudo de bom, maiores são as chances de você ter o olho furado pelas sua amigas piriguetes (perigosas).
'Marizinha no banho' acabou de entrar. Essa não consegue mais desgrudar do MSN. Até quando vai beber água troca seu nick para 'Marizinha bebendo água'. Ganhou do pai um laptop pra usar enquanto estiver no banheiro, mas nunca tem coragem de colocar o nick 'Marizinha matriculando o moleque na natação'.
' < . ººº< . ººº< / @ || e $ $ ! || |-| @ >ªªª . >ªªª >' acabou de entrar. Essa aí acha que seu nome é o Código da Vinci pronto a ser decodificado. Cuidado ao conversar: ela pode dizer 'q vc eh mtu déixxx, q gosta di vc mtuXXX, ti mandá um bjuXX'.
'Galinha que persegue pato morre afogada' acabou de entrar. Essa ai tomou um zig e está doida pra dar uma coça na piriguete que tá dando em cima do seu ex. Quando está de bem com a vida, costuma usar outros nicks-provérbios de Dalai Lama, Lair de Souza e cia.
'VENDO ingressos para a Chopada, Camarote Vivo Festival de Verão, ABADÁ DO EVA, Bonfim Light, bate-volta da vaquejada de Serrinha e LP' acabou de entrar. Essa pessoa está desesperada pra ganhar um dinheiro extra e acha que a janelinha de 200 x 115 pixels que sobe no meu computador é espaço publicitário.
'Me pegue pelos cabelos, sinta meu cheiro, me jogue pelo ar, me leve pro seu banheiro...' acabou de entrar. Sempre usa um provérbio, trecho de música ou nick sedutores. Adora usar trechos de funk ou pagode com duplo sentido. Está há 6 meses sem dar um tapa na macaca e está doida prá arrumar alguém pra fazer o servicinho.
'Danny Bananinha' acabou de entrar. Quer de qualquer jeito emplacar um apelido para si própria, mas todos insistem em lhe chamar de Melecão, sua alcunha de escola. Adora se comparar a celebridades gostosas, botar fotos tiradas por si mesma no espelho com os peitos saindo da blusa rosa. Quer ser famosa. Mas não chegará nem a figurante do Linha Direta.
Bom é isso, se quiserem escrever alguma mensagem, declaração ou qualquer coisa do tipo, tem o campo certo em opções 'digitem uma mensagem pessoal para que seus contatos a vejam' ou melhor, fica bem embaixo do campo do nome!
Vamos facilitar!

Postado por Ronaldo Botelho no Mousepreto

[past and language - Toe]

domingo, 29 de março de 2009

Blues erótico

Agora, nesse instante, eu me encontro em pleno calor,
sentada aqui nesse quarto solitário,
escutando uma música que entra pelos meus poros,
acho que quero fazer um streap,
enfim, não tenho pra quem tirar a roupa.
Do outro lado da tela, alguém,
indecentemente, me faz propostas deliciosas.
Acho que me falta um cigarro,
uma cerveja e uma companhia que
aceite minhas propostas também.
Enquanto isso, imagino
meu batom vermelho rasgando-lhe a boca
e em gemidos quentes
eu possuo não só o corpo,
mas a alma de alguém.
Mas enquanto não me visto
de roupas apropriadas para seduzi-lo,
invisto nesse blues
que me deixa as pernas em brasa,
desejando que, mais tarde, ele me chame de meu bem.
E já que depois desse nosso
ato descontrolado
ninguém quer dizer nada,
eu acendo um cigarro
que é ideal pra minha boca
tarada.

Laura Santos

[Nine Below Zero - Sonny Boy Williamson]

Mais

Mais tarde só me restará a certeza
de ter uma alma quase gêmea vagando
por algum lugar que eu não estarei,
mas ainda assim, dividindo lembranças
de um passado que muito nos
trouxe.

-E que muito me fez feliz.

Laura Santos

[Viõrar Vel Til Loftárasa - Sigur Rós]

sábado, 28 de março de 2009

Björk



Uma das melhores artistas do últimos tempos, Björk só podia mesmo ter vindo da Islândia. Dona de uma voz inconfundível e de uma personalidade incomparável, todo mundo tem um jeito Björk de ser. Seus clips são sempre registrados pela incapacidade de fazer alguma coisa comum, mas caracterizados pela sua identidade exclusiva.
Acima, o vídeo da música "Bacharolette" que, para mim, é uma das suas melhores. Além da voz brilhante, alguém tenta me explicar esses instrumentos de corda? Uma artista que vai me acompanhar sempre, sem dúvida.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Foi assim

Chegou e sentou-se na mesa ao lado.
Pediu um café preto e amargo
e acendeu seu cigarro um tanto fedido.

Leu um poema em voz alta,
jogou umas moedas na mesa
e sumiu pela porta
que dava pra rua.

Levou meu coração embora e me deixou na saudade.

Se a verei novamente?
Nunca mais...

Flor de Moraes

quarta-feira, 25 de março de 2009

Das lembranças


Era uma tarde de céu nublado,
o ar tinha um cheiro de maresia
e um gosto um tanto salgado.
Pelos poros um suor quase inocente
transpirava.
As mãos úmidas, os olhos brilhantes
como de uma criança.
Embora nuvens carregadas fossem promissoras,
não choveu. Ao contrário,
o sol se escondia timidamente no
horizonte de uma praia urbana,
porém deserta.
E eu me lembro tão bem.
Parece que acabou de passar,
mas se fora já tem um tempo.

Agora eu me encontro aqui,
detida em pensamentos pessimistas
que me apavoram o otimismo.
Chove, uma chuva triste,
melancólica, quase que, o céu
em depressão, agora chora seu
desespero.
E eu me desespero,
por fazer dessas palavras
meu desabafo,
de presente meu passado
e de companhia só
me restou a solidão.

Flor de Moraes

A análise e a resposta

Aqui, nesse metro quadrado fechado,
úmido, quente e abarrotado,
um silêncio discreto quase sussurrado
corta o escândo por alguém dado.
Penso no dia que faz lá fora e
aqui dentro n'alguma alma que chora
a falta de um amor
que lhe foi negado.
E enquanto esses minutos se estendem,
conto palavras que ninguém entende
desses minutos que vão embora.

Laura Santos

Anteontem veio a mim...
Mas Deus, eu não merecia!
de escárnio, de ódio, de paixão.
refutei-o, virei-lhe as costas
por que o fiz? Antes soubesse
padeço agora em agonia,
antes não o houvesse feito,
pois não sabia.
não sabia que ao o fazer,
matava algo por nascer,
um amor, uma vida, sonhos em sépia, beijos em P&B,
mas cá estou. Sabe-se lá,
um dia me esbarro n'outro amor.

Mário David

segunda-feira, 23 de março de 2009

7

Eu andei a passos largos e silenciosos,
tentando atravessar o saguão onde
dormia um bicho de sete cabeças.
Por muito esse monstro permaneceu
sólido, mudo, quieto dentro de mim.
Uma fera que eu tive que domar
a pedradas de palavras ríspidas
e socos de verdades inteiras.
Eu apaguei a luz e o mandei
dormir.
E quando me aproximava
da saída daquela sala fria
e que me causava arrepios
n'alma, eis que o monstro,
como peixe que pula
fora d'agua,
acordou feroz, veloz,
faminto.

Já disse, bicho de sete cabeças,
animal, tosco e voráz!
Se não te acalmas,
luz do dia
nunca mais verás!
Corto-lhe as cabeças e tua alma
entrego pra Satanás,
livro-me dessa tua pele
áspera e teu cheiro de gás
terei descanso, sossego e paz
esquecendo-me, finalmente
dos meus
suspiros e ais.

Flor de Moraes.

domingo, 22 de março de 2009

Diálogo

-Por que andas de cabeça baixa? Perguntou a menina sugestivamente.

-Porque estou a procura de algo que não perdi: um amor, um sonho, um desejo.

-E tu? Por que andas me olhando? Perguntou o menino maliciosamente.

-Porque procuro algo que perdi dentro dos teus olhos: meu amor, meus sonhos, meus desejos e minha liberdade. Os mesmos olhos que, nunca me enxergaram, mas por diversas vezes me vi refletida neles.

Flor de Moraes

[if I can't be my own, I feel better dead]

sábado, 21 de março de 2009

Closed Caption

Estou sentada em frente à essa tela futurista que recebe minhas palavras e as transforma nisso que, provavelmente alguém lerá. Meus cabelos estão pingando. Ainda tenho a toalha do banho recém tomado envolta no meu corpo úmido, quente, frio. Essa música me faz querer escrever, me faz não querer sair daqui, me faz querer estar assim. Se esticar a mão, posso alcançar uma roupa no meu armário e se der dois passos, vou pentear meus cabelos. Posso sentir o cheiro do shampoo, fresco, doce. Acho que minha maquiagem borrou um pouco no banho, mas quem se importa? Tento traduzir algo que faça sentido, mas dentro de mim poucas coisas são nexas. Acho que, na garganta, uma lágrima quase que inocente engasga. Sinto uma gota que escorre da minha nuca, desce pelas minhas costas e some na borda da toalha. É uma sensação de liberdade. O mundo girou tão rápido hoje. Estive em tantos lugares, vi tantas pessoas, falei tanto. Acho que minhas mãos estão ásperas, e porque estariam lisas? Eu as uso! Eu trabalho com as minhas mãos. Minha alma também está calejada! Mas e daí? Eu tenho alma. Já parou pra pensar quantas pessoas não tem? Agora me levantei, coloquei a primeira calcinha que achei; prefiro continuar escrevendo qualquer coisa. Acho que meu corpo está cansado, mas ainda me resta uma energia. Eu preciso que ela exista em algum lugar. Ainda é cedo demais pra querer parar, ainda é cedo pra desistir, ainda é tão cedo. Alice in Chains não quer parar de tocar pra mim, pois não pare! Já sentiu sua respiração lenta? Os olhos querem fechar? Pode acabar o mundo lá fora, pra mim, o mundo é aqui dentro. É preciso viver, é preciso seguir a estrada dos tijolos amarelos atrás de algum coelho branco que carrega o tempo nas mãos, ele anda tão apressado. Vou me levantar, vestir uma roupa qualquer, secar meu cabelo e novamente me sentar aqui. Talvez passe a noite toda escutando a rua vazia, talvez eu esteja na rua, talvez vá dormir. O futuro é tão incerto e eu ando acostumada com as peças que o destino, sorrateiramente me prega. É preciso montar o quebra cabeça da vida. Não existem peças que não sirvam em algum lugar, por mais complicado que seja.

Laura Santos

sexta-feira, 20 de março de 2009

A Silver Mt. Zion



"Lost a friend to cocaine
Couple friends to smack
Troubled hearts map deserts
And they rarely do come back
Lost a friend to oceans
Lost a friend to hills
Lost a friend to suicide
Lost a friend to pills
Lost a friend to monsters
Lost a friend to shame
Lost a friend to marriage
Lost a friend to blame
Lost a friend to worry and
Lost a friend to wealth
Lost a friend to stubborn pride
And then i lost myself "


Vale a pena.
A gente sempre perde alguém pra alguma coisa.

Bagagem

As vezes, nesse meu ócio infinito, eu me pego pensando porque as coisas acontecem. Porque a gente perde quem ama e ama quem nunca será nosso, porque escolhemos sempre o caminho que parece ser o melhor, mas é sempre o mais difícil, porque dançamos valsa se insiste em tocar pagode. E num momento de lucidez, quase que como um clarão de um raio, vejo que as respostas estão aqui, na palma da mão, em frente aos olhos de quem vê. As coisas acontecem porque têm que acontecer. Cada caminho que escolhemos, cada pessoa que conhecemos, cada dia que vivemos surgem na nossa vida como objetos para nosso próprio crescimento. Seria patético sair dessa vida sem carregar uma bagagem com conteúdo sólido. É uma existência sem propósito. Então, quando chegarmos perto da morte, será gostoso olhar pra traz e reviver todos os nossos passos tortuosos, todos nossos amigos e paixões, todas as lágrimas que choramos e rimos. Porque o conteúdo que carregaremos para a morte será a própria vida em si e o que acontece é para que eu não sai do mundo de mãos abanando.

Laura Santos

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cena

Ainda ontem eu vi uma senhora que ia, a pé, comprar pão numa padaria próxima. A senhora, muito graciosa, tinha um perfume doce, quase malicioso. As bochechas rosadas denunciavam a pele macia, delicada, frágil. Seus cabelos brancos eram tão suaves ao toque do vento. E seu rosto possuía linhas, traços, marcas de toda uma vida ora sofrida, ora mágica. Trazia pela mão uma criança de olhos grandes que pareciam querer devorar o mundo. Olhos afoitos, curiosos, jovens. Pacientemente ela explicava à criança a respeito das coisas da vida. Contava-lhe os sonhos que teve, os lugares que visitou, as pessoas que conheceu, os amores que viveu. A menina, cujos olhos agora me fitavam, parecia querer ser gente grande e contar à alguém a experiência que ainda não viveu, só pelo gostoso prazer de contar alguma coisa. A senhora, gentilmente acenou para outra pessoa que passava apressada pela rua. No chão já se podiam ver algumas folhas secas anunciando que as águas de março finalmente fechavam o verão e um outono próximo chegava trazendo uma brisa fresca, quase fria. O sol ia se despedindo megestralmente como fazia todas as tardes, incansavelmente.
E aos poucos aquelas vidas femininas iam sumindo lentamente no horizonte da aurora urbana. Calmamente, notei que tudo passaria assim, diante dos meus olhos. E ficariam registrados para sempre os lábios daquela senhora que nada me falou, mas tudo me disse e os olhos daquela criança que, inocentemente me mostrou o mundo.
Só não pude saber se, a senhora que carregava a menina pelas mãos, ou a jovem que conduzia aquela idosa pelo caminho. Eram, em seus íntimos, cúmplices de si.

Laura Santos

quarta-feira, 18 de março de 2009

Livros atirados

Se hoje não tiver nada para fazer,
vou atirar livros pela janela
que dá para a rua.
Não porque não gosto deles,
nem porque minhas prateleiras
já estão fartas,
mas porque, talvez,
acerte a cabeça de alguém
que anda destraído pela
calçada.

Quero acordar essa gente que dorme.

Flor de Moraes

terça-feira, 17 de março de 2009

O primeiro


Sentiu aquele frio na barriga,
e a respiração mais ofegante.
O lábios molhados que encontram
outros lábios úmidos

Corou e sorriu timidamente.

Ela havia beijado.

-Nunca mais beijaria pela primeira vez, mas nem por isso perdeu o encanto.

Flor de Moraes

domingo, 15 de março de 2009

O violão do Vinícius

Contando os acordes do violão de Vinícius
sinto que estou no início
de uma surdez mundana.
Admiro o céu nublado,
sentindo o sambinha sussurrado
cantando a boemia prosa de poeta.
Penso na vida em reta,
girando loucamente
em circulos
faço dessas palavras
meus rabiscos
sambando a música perpétua

Vejo uma cerveja que chama
medicando o corpo que reclama
o calor do país tropical,
acendo um cigarro esfumaçado,
e vejo a vida de baixo astral
me observar.

E naquele canto mansinho,
choro bem baixinho
que é pra Vinícius não me escutar.

Flor de Moraes

[this can be the end of everything]

sexta-feira, 13 de março de 2009

DIA

Don Quixote por Salvador Dalí

Quando a dor que
a alma sente
estampa na cara
uma lágrima
amarga,
a noite acode
o sentimento
ferido e
transforma em
esperança o
sorriso que a prórpia
dor guarda.

Flor de Moraes

[você se foi antes mesmo de estar aqui]

quinta-feira, 12 de março de 2009

Vê?

Eu pedi pra vida me tratar assim,
a tapas, socos, pontapés.
Pedi pra ela judiar,
maltratar, ferir.
Pedi que ela arrastasse
meus sonhos esfolando
meu coração num asfalto novo.
Pedi, eu pedi sim.
Eu implorei a dor dos
amantes que moram longe
e dos pais que perdem os filhos.
Eu supliquei que ela me torturasse
o tanto que pudesse.

Eu pedi pra que fosse assim.

Só pode.

Laura Santos

[what if I got it wrong?]

quarta-feira, 11 de março de 2009

Clássica



Eu ando extremamente preguiçosa e ocupada pra postar coisas mais bem elaboradas, mas um videozinho de uma boa música SEMPRE cai bem.

[sempre boas indicações]

terça-feira, 10 de março de 2009

Ópios édens analgésicos


um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra.

Paulo Leminski

[what if?]

segunda-feira, 9 de março de 2009

Isso aí

Se a minha alma conseguisse arrotar em palavras o nojo que sente da arrogância e prepotência do ser humano, ela não arrotaria, vomitaria. O repugno percorre cada veia do meu corpo fazendo transpirar minha revolta por cada poro que respira. Homens sujos, frios e de alma pequena! Instituição de gente cega, mesquinha e insuportável. Como a lama dos vossos chiqueiros fede dentro da minha casa! E como a sujeira de vossas almas encardiu, também, vossos corações impuros. Me incomoda como andam, falam, se comportam como seu o mundo girasse ao redor deles, gente de má fé. E ainda se acham os donos do mundo dizendo por aí o que pode e o que não pode ser feito. São homens enjaulados nas celas da falta de amor, de humanidade, de solidariedade, respeito, de compaixão. Não sabem como são inescrupulosos e carregam a falta de caráter estampada na cara, e ainda vem me falar de moral e lei!

Santíssima, deixo aqui registrado o meu protesto contra a maneira que a excelentíssima se comporta desde os primeiros pilares da vossa fundação. Deixo também registrado o meu pedido de que vocês todos morram e carreguem com si seus corações gelado e corruptos. Queria também informá-la que, se tiver filhos, terei o prazer instruí-los para que vejam essa imundice que a senhora vai deixar. Porque além de cegos, também sois burros e porcos.

Laura Santos

[we chase misprinted lies]

domingo, 8 de março de 2009

A nós!

Uma homenagem a nós mulheres



Rosa
Pixinguinha


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer.

Parabéns.

[fica a dica que Gregor Samsa acabou de lançar o álbum Over Air. Tá uma coisa linda]

sexta-feira, 6 de março de 2009

Não sei

Essa tarde eu acordei mais branda, mais suave, porém ainda permanece aquela velha nostalgia de sempre. A chuva que caiu (e parte me molhou) refrescou o chão quente levando embora a poeria de dias insuportáveis. No céu pairam nuvens carregadas de chuva, de frescor, de esperança quem sabe. Não faz sol, nem calor, nem frio. O violoncelo de Dvorak entra nos meus ouvidos e produz um certo tipo de loucura, surdez. Não, não quero ouvir o céu triste que chora nem meu vizinho reclamar que a água molhou suas roupas no varal. Vê? Alguém lá de fora exclamou bravamente: "Nossa, que tempo feio!" O mundo não me interessa. Essa moleza corporal me faz querer deitar em braços confortáveis e quentes e me sentir protegida de toda a promessa da chuva que ainda vai cair. Ao mesmo tempo, sinto que não há lugar melhor para recolher-me do que dentro de mim, mas tenho medo, medo dos caminhos tortuosos que eu nunca percorri, dos diabos que nunca vi, dessa gente esvairada que anda por aqui, cá dentro do peito. Hoje minha cabeça gira muito mais rápido do que naquelas noites ébrias, embriagadas. O tic tac do relógio me apressa. Parece que vejo a vida passar pela janela do meu quarto. Essas auroras são tão inconstantes, quem pode prevê-las? E não venha me falar da previsão do tempo. O findar do dia não é para você como é para mim. Sinto-me distante das tardes quentes que em algum dia da infância eu vivi. Essa distância me leva pra perto de você. Quantas vezes sentimos o sabor infantil das tardes coloridas de Brasília? Por agora, me encontro enclausurada não só dentro desse quarto, mas presa dentro dessas lembranças me cortam como faca de fio amolado. Sem perceber, sangro meu próprio coração me levando pra perto desses resquistos de memória dos dias que a realidade era mais colorida. Quanto tempo eu perdi? Quanto tempo estou perdendo? Melhor você ir embora e levar contigo todo o nosso passado, pois você já não faz muita parte do meu presente, não como eu queria que fizesse. Doces, doces e amargas lembranças daquela nossa infância particular. Eu queria que estivesse uma tarde bonita. Quem sabe se eu enxergasse além das nuvens, eu conseguiria ver um céu mais distante, mais firme, mais tenro. Agora encontro-me nessa realidade fria, quase morta. Deixe que outro coração aqueça a frieza da minha solidão. Eu conheço olhos que, se eu chegar mais perto, posso me ver dentro deles. Algum tipo de desejo ou compatibilidade de interesses nos unem. Aproximem-se, olhos forasteiros! Eu não sei do seu passado, mas posso querer fazer parte do seu futuro de alguma maneira sutil. São almas calejadas e sofridas e monstros na cabeça que gritam incansavelmente. A gente não precisa matar os monstros se aprendermos a cala-los. E as lembranças ainda continuam ardendo aceleradamente em algum lugar dentro de mim. É a saudade que entra sem pedir. O ar agora assume uma cor meio laranja, quase florescente. Acho que minhas pupilas estão dilatando deixando que alguma luz colora minhas retínas foscas, ácidas. Não sei. Não há o que esperar além do futuro que eu pensei chegar, mas acabou de ir embora. De vez em quando eu tento sonhar com alguma coisa mais real. E enquanto pobremente e improvisadamente eu tento traduzir essa tarde melancolica e nostalgica que segue mundo afora e noite adentro, a vida me chama para sair dessa casca de castanha e seguir pelo caminho que recebeu chuva porque certamente lá brotarão flores.

Laura Santos

[entre nós]

quinta-feira, 5 de março de 2009

Poema de todas as faces

Era uma mulher incrível.
Gostava de poesia, música, literatura.
Tinha habilidades na cozinha e sabia muito bem escrever sobre qualquer assunto.
Era sensível, cheia de talentos, bonita.
Gostava sempre de ser sincera e ter bons amigos.
Sabia se comportar em qualquer lugar. Conhecia os talheres da mesa, as taças de vinho, mas não deixava de freqüentar um bar copo sujo e sabia ser feliz assim.
Andava sempre muito limpa, cheirosa, arrumada.
Tinha os cabelos lisos e os olhos vivos. As mãos eram delicadas e falava baixo.
Ria sempre e sabia chorar em silêncio.
Era apaixonada pela vida, pelas pessoas, pelos sentimentos. Sabia aproveitar cada instante como se o próximo não viesse e sugava da vida toda essência que essa podia oferecer.

Seria praticamente perfeita, se não fosse tão desalmada.

Flor de Moraes

quarta-feira, 4 de março de 2009

Genial



A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?

Charlie Chaplin

Indicado por Ronaldo a long time ago.

terça-feira, 3 de março de 2009

Pluvial


Eu tava só esperando as águas de março
que fecham o verão pra sair e tomar
um banho de chuva na rua.

Voltei pra casa mais leve,
de banho tomado e a alma
lavada e desencardida.


Flor de Moraes

segunda-feira, 2 de março de 2009

Festival do Minuto

Vídeo super premiado pelo Festival do Minuto.

Vale a pena conferir.

domingo, 1 de março de 2009

Metade


A gente acredita na intensidade das coisas não enquanto elas duram, mas quando sabemos que elas irão. O que ficará são lembranças de dias inesquecíveis ao lado de pessoas inexplicáveis. O cheiro da bebida, do cigarro, da casa, das roupas. O boteco da esquina, a confeitaria de doces, a lanchonete do café. "Isso pode, isso não combina, você vai mesmo sair com ele?" Tudo que faz parte de um universo infinito de conflitos e combinações. Televators, The Window, Não pare na pista. Não pare agora! Vai em frente num caminho de possibilidades sem fim. Eu te acompanharei na mais perfeita sintonia. O choro, o riso, a pala. Os planos nunca realizados e as realizações nunca planejadas. Preta e branca. Aquela parceria conquistada e firmada.
E a certeza de uma amizade tão sólida quanto os copos, as latas e as roupas e tão sentimental quanto às lágrimas, os sonhos e o amor.

[Não quero ver você com esse gosto de sabão na boca]