sábado, 28 de fevereiro de 2009

Analisando Manuel Bandeira

"Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo, porque os corpos se entendem, mas as almas não." Foi com essa frase que o gênio Manuel Bandeira encerrou um dos poemas mais fantásticos e realistas já conhecido. Manuel inicia o poema afirmando que a alma é que estraga o amor e se alguém quer sentir a felicidade de amar, é melhor esquece-la. De fato, aprendemos a amar mais com os nossos corpos do que com a nossa alma, e se é assim que sabemos amar, melhor que amemos desse jeito. Antes pouco do que nada, antes pingar do que secar, antes tarde do que nunca. Se a alma reclama a falta, a ausência, a distância, a frieza, melhor deixar que o corpo unido ao outro corpo se entenda debaixo de algum lençol macio e confortável. Melhor que as bocas calem as palavras que as almas gritam freneticamente. E pensando pelo lado prático da coisa, quando encontramos alguém que desejamos encontrar, a primeira coisa que fazemos é abraçar e beijar, dessa maneira, só usamos os nossos corpos; nossas almas sequer se manifestaram. E então o que vemos no fundo dos olhos de alguém? O sentimento, o desejo, a vontade, a felicidade do reencontro ou, talvez, do primeiro encontro, aquele que acontece no bar, na avenida, embaixo da chuva. Mas não se preocupe, seus corpos manifestarão o desejo da alma de estarem juntos. Digamos então que, a alma dá o ponta pé, mas os corpos fazem o serviço todo, cruzam o campo e chutam pro gol. E se por ventura as almas não mais se desejarem, ficará a cargo dos corpos a separação. Tão rapidamente como vieram, em algum momento se vão, deixando para trás apenas vestígios de corpos que se desejaram, se amaram e nunca se esquecerão. Porque a gente pode até esquecer uma alma, mas não um corpo que um dia fez parte do nosso.
Manuel Bandeira tinha razão, mais vale dois corpos se amando loucamente do que almas que brigam descontroladamente.

[Texto dedicado]

Laura Santos

Para ver o poema completo clique aqui

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Literatura

Veja o que muita gente disse a respeito da literatura.

"A Academia Brasileira de Letras se compõe de 39 membros e um morto rotativo."
Millôr Fernandes

"A bela encadernação sofre com a obrigação de vestir o mau texto."
Carlos Drummond de Andrade

"É provavelmente verdadeiro, como diz Gore Vidal, que a literatura não carece de escritores, mas talvez de leitores."
Martin Amis

"Em literatura, o melhor meio de ficar célebre é morrer."
Victor Hugo

"Meu livro favorito é a lista telefônica de Los Angeles, onde se pode encontrar de tudo: sexo, massagens japonesas..."
Gore Vidal

"Na América somente o escritor de sucesso é importante, na França todos os escritores são importantes, na Inglaterra nenhum escritor é importante, e na Austrália, você tem que explicar o que é um escritor."
Geoffrey Cottrell

"Nada proporciona mais prazer a um escritor do que ver as suas obras citadas com respeito por outros autores de renome."
Benjamin Franklin

"O bom livro faz cicatrizes."
Gilberto Dupas

"Somos todos escritores, só que alguns escrevem, outros não."
José Saramago

"Uns escrevem para contar. Outros, para provar. Não poucos, para desabafar."
Érico Veríssimo

Achei no oguiadoscuriosos

[When you've got to feel it in your bones]

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Falando de amor

Eu podia ser seu espinho
Ser a pedra no seu caminho
Seu ciúme doentio
Mas eu tô falando de amor

Eu podia ser sua tara
A ferida que nunca sara
Te humilhar, te dar na cara
Mas eu tô falando de amor

Eu tô falando de amor
E não da sua doença
Eu tô falando de amor
Eu tô falando de amor
E não do que você pensa
Eu tô falando de amor

Eu podia ter o segredo
Pra te transformar num brinquedo
E te deixar morrendo de medo
Mas eu tô falando de amor

Eu podia ser seu escravo
Pra você deixar de quatro
Me fazer de gato e sapato
Mas eu tô falando de amor

Eu podia ser um mistério
E viver cercado de estórias
Só te olhar de um jeito mais sério
Mas eu tô falando de amor

Eu podia ser a ternura
Sem desejo, beijo, nem sexo
Ser somente a idéia mais pura
Mas eu tô falando de amor

-Música do Leoni só pra matar a saudadezinha e me sentir feliz, porque talvez eu esteja, de certa forma, feliz.

[só pro meu prazer]

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Abre alas

Todo ano a gente se envolve nessa mesma ladainha. A Globo vai transmitir os desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio e vai fazer uma senhora cobertura de todo o carnaval em todas as partes do país. Vai ter muito peito e bunda de fora desfilando. Tem gente que vai beber, tem gente que vai parar. Uns vão para o interior e outros vão pra praia e ainda tem aqueles que preferem ir pra lugar nenhum. Uns vão ver o sol nascer redondo, outros vão vê-lo nascer quadrado e, infelizmente, ainda tem aqueles que nem o verão raiar no horizonte de alguma capital colorida. O país vai parar. Vai ser sempre dia, vai tocar só frevo, vai beber-se somente cerveja, não importa aonde você esteja, estará lá uma praia.
Eu ficarei em casa, cá com meus pensamentos que me separam desse carnaval de futilidades. Vou fazer da minha alma a avenida e desfilar meus sentimentos que compõem um samba enredo dentro de mim. Vou ter mestre sala e porta bandeira, comissão de frente e a evolução será nota dez!

Pra quem tem a imaginação de fazer da própria vida um carnaval inteiro, vai fazer o que no sambódromo?

E depois que tudo isso terminar, volto ano que vem, talvez mais cheia, talvez mais vazia de mim, mas com a certeza de que ainda tenho gardada alguma fantasia do feriado passado...

Laura Santos

E a vida é, realmente, a arte do encontro.......

Um convite. Uma aceitação um tanto quanto desajeitada. Mas por quê não?
Aceitei o convite.
Ainda que desencontrando dessa flor (!) de menina, e com medo de adentrar num universo tão infinito (e tão particular) vou postando aos poucos, preenchendo alguém com outrém.
Bom, aí vai minha primeira contribuição:


Nunca entendia porque minha mãe, ao reinvidicar seu cargo conquistado pela evolução genética e reafirmado pelo racionalismo sádico de alguns milênios, sempre me dizia: faço das tripas coração por seus filhos.
Ingenuidade abissal ou devaneios cotidianos, nunca havia me dado conta dessas tripas metamórficas.
Ontem a noite, depois do amargo gole do café, resquícios de saudades, desdobradas de um velho papel de banco, lembrei da expressão materna.
Do poema de Maiakovski.
Do bar sujo com a logo da família Adams:
Havia transformado meu coração em uma tripa.



É, não tem título. E qual sentimento teria?
* A foto é do filme "Noites de Circo", de Ingmar Bergman; pois até mesmo os palhaços sofrem. E choram.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cafeina, nicotina e poesia


Quando acordei me veio aquele hálito quente me lembrando o uísque barato da noite que se foi. O dia é nublado, mas alguns poucos raios de sol anunciam uma manhã de primavera que certamente virá. Acendo um cigarro e tomo um café amargo em constraste com os beijos doces da dama que, embora tenha dormido comigo, não amanheceu ao meu lado. Então páro e penso nessas frases nostalgicas que escrevo.

- Me bastam esses instantes que melancolicamente se vão vida a fora.

Laura Santos

[poema só para Jaime Ovalle]

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sempre



Uma lição.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Velejo

Palavras tortas que navegam
no remanso da saudade
tropeçam nas linhas da idade
que um dia eu tentei esconder
com AVON.
Mas os olhos
sendo a janela da alma
deixou que creme
nenhum escondesse
que, no fundo, minhas
palavras são barcos
que trafegam no rio
dessas linhas
fundas
densas

sóbrias.

Flor de Moraes

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ConformIdade


Eu aprendi que não adianta eu me apressar.
Não adianta eu correr para pegar o trem que já partiu,
nem para recolher a roupa no varal que a chuva já molhou.
Não adianta eu acelerar os minutos que só passarão
quando 60 devidos segundos se forem.
Não adianta eu querer pegar aquilo
que meus braços não alcançarão.

Tudo acontece por um motivo
e no seu tempo certo.

Porque as vezes inveja me causa
a felicidade que os outros têm
e que meus olhos nao contêm.
As vezes tristeza me causa
o desafeto, a solidão, a falta de amor.
As vezes desânimo me causa
o futuro que pra tantos já é presente
e pra mim ainda não chegou.
E me encomoda esse meu jeito
de querer sempre apressar tudo.
O trem, a chuva, o tempo, o futuro
quando eu sei que o fruto
só está pronto
quando fica maduro.

Flor de Moraes

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Eu também!


Clique na imagem para ampliar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu etiqueta


Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sambinha

Esse samba que eu canto
É pra ver se um dia viro santo
Pra Deus não me castigar.

Pois um dia amei aquela boca
E levando uma vida louca
Descobri quão bom era amar.

E seus olhos tão pequenos
Seu jeito sempre sereno
Me pedindo pra ficar.

Ah Senhor, se santo eu virasse e se saudade eu não deixasse naquele manso olhar
Ah Senhor, que bom seria se eu amasse todo dia quem sempre prometeu me amar.

E que frio faz agora
Depois que ela foi embora
Deixando apenas esta canção.

E não há sol que aqueça
Nem lembrança que esqueça
A falta de uma paixão.

Amada, por favor perdoa
Esse ser que ama á toa
Essa alma sem coração.

Ah Senhor, se eu fosse santo eu fazia desse canto uma prece de amor
Ah Senhor, mas como eu pequei agora eu só cantarei o sambinha da minha dor.

Flor de Moraes.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Música da infância



Sinto tanta saudade.
Não tem mais o que dizer.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Once upon a time

Quanto mais alto, menor o mundo fica.

De um alto ponto da cidade
eu avisto tudo que o olhar não
alcança, mas daqui
tudo me parece menor ainda.

Eu brinco com os carros
que passam pela
avenida que eu construí
e as pessoas formam a
população da minha
cidade imaginária.
E oh! que bonito
o jardim da casa que
eu quis para mim.
Seus coqueiros formam
lindas sombras na piscina
que em dias quentes
eu me refrescarei.

E tudo aos poucos
se torna lúdico.
Do alto ponto
da cidade.

Da sacada de um prédio urbano
brinca uma criança de 20 anos de idade.

Flor de Moraes

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Soneto do amigo que volta

Querido amigo, que bom que regressaste!
Tua saudade muito me doia
E enquanto a vida me ia
Muito desejei que aquele tempo voltasse.

O que ofereço-te são poesias que no tenho no olhar
Em simples prosa e verso
Uma cachaça e um cigarro pelo teu regresso
Um violão e flauta doce cantando pro mar.

Sente-se, meu caro
Vê como a vida vai embora
Ficam os sonhos e os desejos noite a fora
Desse nosso caso de amor raro.

Ma oh! Nao se vá amigo
Nao me deixes outra vez na saudade
Façamos desse tempo nossa eternidade
E dessa casa nosso abrigo.

Flor de Moraes

[Canto de Ossanha]

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Banda


Sigur Rós: A Banda
-Os melhores álbuns
-As melhores músicas
-Os melhores músicos.

Direto da Islândia, não podia ser diferente.

Escutem.

[En ég stend alltaf upp]

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Vaidade


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

Florbela Espanca

[my family tree]

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cover



Esse cover de Radiohead ficou sensacional na voz de Gnarls Barkley.

[Tristeza não tem fim, felicidade sim]

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Piercing

não me diga que me ama
não me queira não me afague
sentimento pegue e pague emoção compre em tablete
mastigue como chiclete jogue fora na sarjeta
compre um lote do futuro cheque para trinta dias
nosso plano de seguro cobre a sua carência
eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
demência felicidade propriedade privada
não se prive não se prove
dont't tell me peace and love
tome logo um engov pra curar sua ressaca
da modernidade essa armadilha
matilha de cães raivosos e assustados
o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado
- lugar de ser feliz não é supermercado

tire o seu piercing do caminho
que eu quero passar com a minha dor.

Piercing
Zeca Baleiro